Mulheres denunciam mais e perfil de casos de violência muda, diz delegada

No primeiro ano de funcionamento da Casa da Mulher Brasileira em Campo Grande, a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) registrou aumento de 20% nos casos de violência. Em 2015, foram 7.255 boletins de ocorrência registrados e mais de 4,5 mil procedimentos encaminhados para o Ministério Público Estadual (MPE), contra 5.907 registros em 2014. O número de mortes caiu de 10, em 2014, para 4 em 2015, sendo 2 homicídios e 2 feminicídios.

 

Segundo a delegada Marília de Brito, a violência contra a mulher sempre existiu, a diferença é que as mulheres têm denunciado cada vez mais.A delegada afirmou que a redução no número de casos mais graves está relacionada ao aumento das denúncias.

Para ela, isso é consequência de uma mudança de comportamento das mulheres vítimas de violência, que passaram a procurar a delegacia no primeiro sinal de violência, ainda nos casos de ameaça e injúria.

 

“O maior desafio ainda é a reticência da vítima em vir denunciar logo no primeiro ato de violência, mas isso começou a mudar. A gente vê que, às vezes, vítimas de situações mais graves demoram para denunciar, e o que verificamos o último ano é que as vítimas estão vindo de forma mais rápida. Esses números retratam o encorajamento maior delas”, avaliou.

 

A ampliação da estrutura para atendimento das vítimas, após a instalação da Casa da Mulher Brasileira, também é apontada por Marília como fator importante.

“Essa ampliação trouxe uma divulgação maior e encorajou as vítimas a procurarem mais, tanto que a gente teve esse acréscimo de 20% de ocorrências. Isso gerou também acréscimo com relação a todos os demais procedimentos, porque a denúncia na polícia é só o início, depois vai para o poder judiciário”, explicou.


De janeiro a dezembro, 583 foram presos em flagrante pela Deam e 244 mandados de prisão foram cumpridos. A mudança de comportamento das vítimas também mudou o perfil dos crimes mais registrados. Há alguns anos, as denúncias de lesão corporal eram maioria, segundo Marília.

“Tivemos uma inversão. Agora, na pirâmide de delitos, temos a ameaça e a injúria como crimes mais denunciados, depois temos lesão corporal, seguida das vias de fato e desobediência da ordem judicial, que é quando o agressor descumpre a medida protetiva de se manter afastado da vítima”, ressaltou.

A violência contra mulher não tem características específica e não escolhe classe social ou perfil de mulher, ressalta Marília.

“Acho que a violência contra a mulher é extremamente democrática, se é que a gente pode chamar assim, até porque a gente vê essas questões da diferença de gênero se revelam de várias formas, em atos violentos, em situações administrativas de trabalho e isso também com relação a classes sociais. O machismo está em todos os lugares. Claro, que a gente percebe maior constrangimento de vítimas de classes mais elevadas em comparecer até a delegacia. Ainda existe essa dificuldade de aceitar a necessidade de ajuda, medo de se expor”, ponderou.


A Casa da Mulher Brasileira fica na rua Brasília, no Jardim Imá, perto do Aeroporto Internacional de Campo Grande. O atendimento é 24 horas no local. O telefone para contato é (67)  3304-7575.

O local é um espaço onde as mulheres sul-mato-grossenses podem receber atendimento humanizado e integrado, da Polícia Civil através da Delegacia Especializada de Atendimento às Mulheres (DEAM), Juizado Criminal, Defensoria Pública e Promotoria do Ministério Público.

No local também irá funcionar uma brinquedoteca, para onde serão levadas crianças filhas das vítimas da violência doméstica, durante o tempo em que estiverem recebendo atendimento.

 

Fonte:G1.MS

Foto:Redação

 

Magali Flores