21 de Abril será lembrado como massacre de Colniza com 9 homens assassinados.

Cuiabá(MT) – Seis das nove vítimas da chacina na Gleba Taquaruçu do Norte, no Município de Colniza (1.065 km de Cuiabá), já foram identificadas pela Politec (Pericia Oficial e Identificação Técnica).Samuel Antônio da Cunha, Francisco Chaves da Silva, Edison Alves Antunes, Ezequias Santos de Oliveira, Sebastião Ferreira de Souza e Aldo Aparecido Carlini foram identificados pela equipe de legista, papiloscopista e técnico de necropsia da Politec, na manhã de sábado (22/ 04). Os três primeiros já foram liberados para as famílias fazerem o traslado para Rondônia, de onde são originários. Policiais militares, civis e homens dos Bombeiros, além de Politec, estão desde a quinta-feira (20/04) trabalhando no caso. Acredita-se que o massacre tenha sido motivado pela disputa por terra.

 

A Secretaria de Estado de Segurança Pública confirmou que os crimes aconteceram por volta das 17h30 de quarta-feira (19/04).Os profissionais continuam os trabalhos de necropsia nas vítimas. Os nove corpos chegaram na madrugada de sábado ao Município. A perícia concluiu que o grupo foi morto a facadas e tiros de espingarda calibre 12.Um médico legista de Juína foi levado de aeronave do Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer) da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) para realizar os exames.

 

O laudo com a causa da morte tem o prazo de 10 dias para ser enviado ao delegado que está investigando o caso. Policiais civis e militares ainda estão no local do crime colhendo depoimentos e pistas. “Estamos realizando os trabalhos de investigação e de identificação dos corpos em conjunto”, disse o secretário de Estado de Segurança Pública, Rogers Jarbas.Uma equipe da Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção a Pessoa (DHPP), composta pelo delegado Marcelo Miranda, três investigadores e um escrivão, e uma equipe de três peritos especializados em local de crime irão para região onde ocorreu o massacre. “Estamos mobilizando mais uma equipe da DHPP e especialistas em local de crime da Politec para auxiliar na força-tarefa que já está mobilizada na região”, disse o secretário.

 

Força-tarefa

 

Uma força-tarefa foi montada para o resgate dos corpos. Ao todo 32 profissionais participaram dos trabalhos. Foram empregados 19 policiais militares, quatro policiais civis, três bombeiros militares, quatro peritos e dois pilotos do Cioaper.Ainda foram utilizados seis viaturas da Polícia Militar e Civil, cinco caminhonetes emprestadas, um avião, dois barcos emprestados e uma motocicleta com carretinha. Os profissionais contaram com o apoio dos moradores da região.

 

Os trabalhos da Sesp começaram na quinta-feira (20), logo que as forças de Segurança Pública tomaram conhecimento do crime. Imediatamente equipes das Políciais Civil e Militar se deslocaram para o local.

 

Na manhã da sexta-feira (21), três técnicos Politec de Cuiabá decolaram do hangar do Ciopaer, com destino ao distrito de Guariba, cerca de 150 quilômetros de Colniza para iniciar os trabalhos.De lá os profissionais percorreram mais 200 quilômetros até a localidade de Taquaruçu do Norte, onde seguiram por mais 15 minutos de barco para chegar ao local do crime.

 

Dom Pedro

 

No sábado, a Prelazia de São Félix do Araguaia, que tem Dom Pedro Casaldáliga como bispo emérito, divulgou nota manifestando solidariedade às vítimas e indignação com o crime.

 

“Este massacre acontece num momento histórico de usurpação do poder político através de um golpe institucional, com avanços tão graves na perda de direitos fundamentais para o povo brasileiro que coloca o governo do atual presidente Temer numa posição de guerra contra os pobres, isso refletido de forma concreta nos projetos, como as Medidas Provisórias 215 e 759, que violam direitos dos povos do campo e comunidades tradicionais”, afirma a nota.

 “Como consequência, o ano de 2016 foi o mais violento dos últimos 13 anos, apontando para uma perspectiva desoladora no campo. E esta situação de Colniza, onde assassinaram inclusive crianças, nos expõe diante dos objetivos de ruralistas que não temem nada para conseguir as terras que buscam”, segue.

 

Leia a nota na íntegra:

 

“Em Mato Grosso o campo jorra sangue

 

A Prelazia de São Félix do Araguaia, em reunião com suas/seus agentes de pastoral, seu bispo dom Adriano Ciocca Vasino e o bispo emérito dom Pedro Casaldáliga, na cidade de São Félix do Araguaia – MT, manifesta sua dor, indignação e solidariedade com as famílias assassinadas na Gleba Taquaruçu, município de Colniza – MT, no dia 20 de abril.

 

Este massacre acontece num momento histórico de usurpação do poder político através de um golpe institucional, com avanços tão graves na perda de direitos fundamentais para o povo brasileiro que coloca o governo do atual presidente Temer numa posição de guerra contra os pobres, isso refletido de forma concreta nos projetos, como as Medidas Provisórias 215 e 759, que violam direitos dos povos do campo e comunidades tradicionais, como também no acirramento do cenário de violações contra as/os defensores de direitos humanos.

 Diversos políticos expõem abertamente seus discursos de ódio e incitação à violência contra as comunidades que lutam pelos seus direitos. Vivemos um clima de “Terra sem lei”, uma verdadeira guerra civil em nosso país.

 Como consequência, o ano de 2016 foi o mais violento dos últimos 13 anos, apontando para uma perspectiva desoladora no campo. E esta situação de Colniza, onde assassinaram inclusive crianças, nos expõe diante dos objetivos de ruralistas que não temem nada para conseguir as terras que buscam.

 As famílias de agricultores da Gleba Taquaruçu vêm sofrendo violência desde o ano de 2004. Neste período, em decisão judicial, a Cooperativa Agrícola Mista de Produção Roosevelt ganha reintegração de posse concedida pelo juiz de Direito da Comarca de Colniza, como anunciada na Nota da Comissão Pastoral da Terra, de 20 de abril deste ano. Em 2007, ao menos 10 trabalhadores foram vítimas de tortura e cárcere privado e, neste mesmo ano, três agricultores foram assassinados.Como estão, neste momento, as famílias que vivem em Colniza? O município já foi considerado o mais violento do país. Sabemos que na região existem outros conflitos de extrema gravidade, como o da fazenda Magali, desde o ano 2000, e o conflito na Gleba Terra Roxa, desde o ano de 2004. A população teme que outros massacres possam acontecer.

 

Clamamos justiça e que os autores desses crimes sejam processados e punidos. A conseqüente impunidade no campo, fruto da omissão dos órgãos públicos, perpetua a violência.Na semana em que lamentamos o massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido em 17 de abril de 1997, que vitimou 19 lutadoras e lutadores do povo, somos surpreendidos por outro massacre no campo, que quer amedrontar, calar as vozes e submeter a dignidade do povo brasileiro.Temos a certeza que o massacre ocorrido jamais roubará os sonhos e as esperanças do povo. E jamais calará a voz das comunidades que lutam.

 

O sangue dos mártires será sempre semente de JUSTIÇA e VIDA!

 

São Félix do Araguaia, 21 de abril de 2017.”

 

 

Fonte; Midianaews

foto Divulgação