Da Jovem Guarda a investigação da Policia Federal. A trajetória de Sérgio Reis

Campo Grande(MS) – Famoso por sucessos como “Menino da Porteira” e “Pinga Ni Mim”, o cantor e ganhador do Grammy Latino enveredou para a política em 2014, quando foi eleito deputado federal, aos 74 anos, graças à alta votação de Celso Russomanno (PRB), que acabou puxando o sertanejo, para a Câmara. Mas como o cantor que foi ídolo da Jovem Guarda virou um dos porta-vozes do bolsonarismo e investigado pela PF por “incitar a população” a praticar “atos violentos e ameaçadores contra a democracia, o Estado de Direito e suas instituições, bem como contra os membros dos Poderes”?

Sérgio Reis foi eleito deputado federal pelo Estado de São Paulo em 2014, pelo PRB, atual Republicanos. Na Câmara, o então deputado se aproximou ainda mais do campo, a partir da participação em comissões relacionadas ao agronegócio. Em 2018, quando o então colega de Câmara Jair Bolsonaro foi eleito presidente, Sérgio Reis não tentou a reeleição. Após deixar o cargo, ele declarou que seu propósito na política era “retribuir o povo”.

As pautas defendidas por Sérgio Reis na Câmara já colocavam o cantor como um “bolsonarista em potencial”. Estiveram, por exemplo, entre as bandeiras do sertanejo, a redução da maioridade penal e a moralização da política. A boa relação do cantor com políticos veio antes mesmo de sua eleição. Em 2014, ele afirmou ter amizade com nomes que vão dos tucanos José Serra e Geraldo Alckmin a Lula, que, segundo o cantor, ia a seus shows.

Um ano antes da última eleição presidencial, o cantor já declarava abertamente seu apoio a Bolsonaro. Em vídeo publicado em 2017 pelo atual presidente da República, Reis afirmava: “Precisa de um linha-dura? É Bolsonaro”. Na gravação, em que também defende o porte de arma, o cantor disse “gostar” de Bolsonaro e que ele seria capaz de “botar a casa em dia”, pois tem “pulso firme”.

No último sábado, 14, o cantor deixou explícita a tentativa de atuar como porta-voz do governo Bolsonaro. Em áudios e vídeos que circularam nas redes sociais, Sérgio Reis convoca caminhoneiros e ruralistas para uma manifestação em 7 de setembro pelo impeachment de ministros do STF — tema que o próprio presidente da República propôs ao Senado — e pelo voto impresso, pauta que já foi rejeitada em votação no plenário da Câmara dos Deputados.

Em um dos áudios, o cantor sugere que o movimento conta com apoio financeiro para manter os manifestantes hospedados e alimentados em Brasília por mais de um mês. Seria uma forma de forçar os senadores a aprovar o afastamento dos ministros do STF e o voto impresso. O artista dá a entender que o presidente Jair Bolsonaro apoia o movimento.

Três dias após o chamado à paralisação, o cantor virou alvo de uma representação assinada por 29 subprocuradores da República, que pediram a abertura de investigação para apurar se o artista cometeu crimes como incitação à subversão da ordem política ou social e incitação ao crime.

O documento foi enviado na terça-feira, 17, à Procuradoria da República no Distrito Federal. Os subprocuradores argumentaram que é preciso considerar o contexto recente de ‘ameaças de ruptura institucional’ e “desrespeito à independência dos Poderes e de seus integrantes”.

Após a repercussão dos vídeos e áudios o cantor e o deputado bolsonarista Otoni de Paula foram alvo, na manhã de sexta-feira (20), de mandados de busca e apreensão da PF. As medidas foram autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, a pedido da PGR.

A proximidade do cantor com o setor de transportes inclui o repasse de R$ 398,2 mil em verbas de origem pública que são repassadas a entidades de transportes ligadas ao Sistema S. Ele recebeu os pagamentos para divulgar ações do setor em suas mídias sociais entre janeiro e setembro de 2020, pelo Serviço Social do Transporte (Sest) e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat).

Cada uma das duas entidades fez depósitos de R$ 18,1 mil mensais à empresa do cantor, chamada Sérgio Reis Produções e Promoções Artísticas Ltda. Os pagamentos constam da prestação de contas do Sest/Senat para 2020, e se referem à divulgação de iniciativas das entidades nas redes sociais de Sérgio Reis, como o Facebook e o Instagram.

Repercussão

Após o cantor ser investigado por incitar atos violentos e ameaçadores contra a democracia, Maria Rita optou por cancelar sua participação no novo álbum de Sérgio Reis. A cantora havia gravado uma versão de “Romaria”, famosa na voz de sua mãe, Elis Regina.

Outro que se pronuncioi foi o músico Gutemberg Guarabyra, famoso por integrar a dupla Sá e Guarabyra. No Twitter disse: “No disco dele que irá sair, inclusive participaria em uma faixa, gravação dele de Sobradinho. Mas me considero incompatível com seu posicionamento atual e infelizmente declino o convite.”

À Folha de S. Paulo, sua esposa Ângela Bavini disse que o sertanejo foi “mal interpretado” e que adoeceu após a ampla repercussão negativa do vídeo.

“Ele está muito triste e depressivo porque foi mal interpretado. Ele quer apenas ajudar a população. Está magoado demais”, afirmou à coluna de Mônica Bergamo. “A diabetes dele subiu que é uma barbaridade”, disse ela, creditando a situação ao estresse. Com informações do Isto é Dinheiro.