Musica sertaneja raiz está triste com ausência de Castelo Chamamé

Campo Grande(MS) – Na letra da música, o último verso clama, agônico, à esbelta e elegante rainha alada dos campos e charcos pantaneiros: “Socorra, garça, quem por amor se perdeu”.
É mais que um verso. Ou mais que uma canção. É um tributo real de poesia à majestade das realezas, de reis e rainhas que não imperam no brilho pomposo de palácios cobertos de ouro, diamantes e vaidades, porque são de um reino onde não existe poder de um sobre outros.
É um tributo real à nobre simplicidade da arte, da poesia, do amor cantado e tocado à mesma mesa, na qual inexistem vassalos e todos podem se lambuzar de notas e vozes que fazem todos iguais – arrebatadoramente iguais!
Assim tento descrever – inspirado pela música “Garça Branca” – a representação de Antonio Rodrigues de Queiroz para minha existência de fã. Gostaria de dizer que fui e sou um de seus vassalos. Todavia, sei que realezas e vassalagens não eram números de suas contas. Ele era tão grandioso no ser quanto a música que fazia, que cantava, que ria e que chorava nas notas pungentes de seu violão e na voz chamamezeira de sua garganta. Voz de alma.
Queiroz era o Castelo. Era um Castelo. Ou um reinado. Sem a coroa imponente dos donos do ouro, com a coroa convivencial da planície dos abraços e dos aplausos à sua majestade sempre curvada em reverência ao mundo dos homens e de Deus.
Castelo agora viaja para além do rio. Quem sabe, para encontrar a garça pantaneira que atravessou as águas, levando a certeza de que um dia seria encontrada. Juntos, agora poderão voar sem limites, como sem limites foram seus sonhos terrenos.
Lugar de reis e rainhas é no espaço dos céus. Ficamos por aqui com a canção que Queiroz & Castelo nos deram de presente.
GARÇA BRANCA
Oh garça branca que voa no pantanal
Oh garça branca eu estou passando mal
Passando mal de saudade, saudade de quem partiu
Partiu em minha canoa para outro lado do rio
Oh garça branca que voa
Voa garça branca nesse lindo céu de anil
Voa garça branca para o lado que ela partiu
Oh garça branca que voa
Socorra garça branca desse índio amigo seu
Socorra garça quem por amor se perdeu
NOTA DO AUTOR – O treslagoense Antonio Rodrigues de Queiroz, o Castelo, virou garça no último domingo (09/07/2023) para voar pelos céus da eternidade, depois de 72 anos terrenos vividos como se tempo e sonhos são asas que se carregam nas mãos.
Autor Edson Moraes/ Jornalista e Escritor
Foto . Arquivo.