Leia; Alunos não são números, de Janyne Nogueira Ribeiro

Dia após dia eu vou ao trabalho onde lido com crianças e adolescentes.  Essa rotina é cumprida de segunda a sexta-feira, eventualmente aos sábados. Trabalho na educação há quase 12 anos. Nesse tempo, que não é pouco, eu aprendi a lidar com toda sorte de situações inusitadas: as mais tristes, as angustiantes e também as alegres e gratificantes.

     Mas durante todo esse processo algo nunca mudou em minha mente. Por mais que houveram, e como houveram, momentos de profundo pesar onde me questionei se o meu trabalho estava sendo feito correta e satisfatoriamente, nem por um instante eu aceitei a ideia de tratar as crianças como números.

Os números tomando lugar das pessoas

     A ideia da tal porcentagem a ser cumprida nunca me convenceu. Como poderia? Não me conformo com o fato de que as “autoridades”, as secretarias de educação entre outros órgãos competentes(?) concordem em justificar e explicar fracassos e falhas com uma margem, uma porcentagem a ser cumprida. Os fracassos são encobertos com a desculpa de não prejudicar os índices, pasmem!

  Os alunos, as crianças e adolescentes, enfim as pessoas não são números! E repito, nenhum ser humano é um número, uma porcentagem, um índice matemático aceitável. Ou pelo menos não deveriam ser, jamais!

Índices matemáticos a favor da educação?

     Existe uma certa variedade de testes aplicados no âmbito educacional, seja na esfera municipal, estadual ou federal. Os resultados dessas avaliações externas tem como função determinar, estatisticamente, o quão avançado está o desenvolvimento do ensino.

O SAEB é aplicado como teste para os alunos de várias fases do processo de ensino, inicialmente aos alunos da 4a e 8a série do ensino fundamental e também do 3o ano do ensino médio. Com o tempo e as mudanças organizacionais dos sistemas educacionais foram feitas as devidas adequações (série para ano escolar).

     Além deste há a Prova Brasil, criada pelo Ministério da educação (MEC) em 2005, o exame mede o desempenho em língua portuguesa e matemática de estudantes, do quinto e nono ano, de escolas públicas. Com o resultado, é possível ter uma noção de como está a proficiência do ensino do país e de suas regiões.

     O IDEB é fruto do resultado dessas avaliações e também das taxas de rendimento escolar (aprovações). Assim, as escolas seguem nessa busca desenfreada por números e porcentagens satisfatórias mas, será mesmo

que tais resultados refletem de fato a qualidade e eficiência do ensino?

A “numerificação” dos alunos

     No âmbito escolar é notório que há uma orientação às vezes velada às vezes escancarada, de que não podem ser atribuídas notas menores que 4 aos alunos. O que dá medo nisso é que esses gestores não perguntam se o aluno aprendeu ou ao menos se ele precisa de ajuda. O que importa é o número.

     A preocupação com o aprender de fato ficou em segundo ou talvez terceiro, quarto plano…. São metas a alcançar, porcentagens a atingir e índices e mais índices…. Alguns gestores até tentam lutar contra a maré e nadar contra a correnteza, mas são poucos… a maioria foi engolida pelo sistema, sufocados pelos percentuais.

     Os professores que são contratados tem medo de questionar e os que são concursados já estão cansados de lutar. O cenário seria cômico se não fosse trágico. A educação virou uma trincheira numérica onde a educação e o conhecimento não importam mais. O que as secretarias de educação querem ver são números apontados ao final de listas nominais, lançados em planilhas que alimentam essa máquina faminta por números pré-determinados.

   Quando será que as pessoas com autoridade para mudar algo neste cenário irão acordar? Quando perceberão que o sistema está falido e não funciona há tempos? Quando abrirão seus olhos de forma humana e abandonarão o autom4tic0 num3r1c0 para dar olhos e ouvidos acolhedores aos educandos?

Tá na hora de acordar! 

   Esse despertar precisa ser logo. Há que se ter pressa! Precisamos que os alunos sejam vistos, sejam enxergados e não apenas olhados. Precisamos que a educação realmente funcione para que as crianças e jovens sejam ensinados e instruídos e não apenas empurrados, como enxurrada ladeira abaixo ou sujeira para baixo do tapete, para o ano seguinte em um fluxo contínuo e desordenado!